« Perdidos e achados » / « Perdus et retrouvés » (Osman Lins)

Brésil
  • portugais

Texte en français

Osman Lins, « Perdidos e achados », Nove, novena [1966], São Paulo, Companhia das Letras, 1994

Un chœur de voix pleure la mort d’un garçon noyé au large de la côte de Recife. L’un des récits explore, à la fois, l’évolution du vivant et de l’organique au fil de l’histoire naturelle, tout en imaginant une montée des eaux qui engloutirait la ville de Recife et signifierait, métaphoriquement, paradoxalement, une forme d’espoir pour l’espèce humaine.  

Contributeur : Luciano Brito

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Texte en anglais

Osman Lins, « Perdidos e achados », Nove, novena [1966], São Paulo, Companhia das Letras, 1994

A chorus of voices mourns the death of a boy drowned off the coast of Recife. One of the narratives simultaneously delves into the evolution of life and the organic throughout natural history while imagining a rising tide that would engulf the city of Recife, symbolizing, metaphorically, paradoxically, a form of hope for the human species.

Contributor : Luciano Brito

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Texte en version originale

Version originale

Original version


Choremos de mãos dadas em redor do morto – em quem nos vemos –, nosso pranto salgado. As águas, sempre a nossa ilharga, sempre a ponto de voltar e cobrir tudo que é nosso, molham os nomes dos bairros onde habitamos, poucos dias dos quais ignoram esta presença. Assim é o bairro dos Aflitos, assim é Beberibe ou rio das arrais, assim é o Recife, a ilha do Retiro, do Leite, o Jiquiá ou cesto de pescar, ilha Boa Vista, Águas Compridas, Ibura ou a nascente, Iputinga ou lugar da fonte clara, ponte d’Uchoa, Várzea, Areias, Água Fria, ilha Santo Antônio, rio pequeno : Parnamirim, e os Peixinhos, o Poço, os Afogados. Quantas vezes fomos invadidos, cobertos, devastados, por mares cujos nomes não sabemos ? Quantas vezes desaparecemos e com que teimosia nos fazemos outra vez cidade, cabo, duna, recife, pantanal ? Muito perdemos, perdendo vivemos, largamos o que temos, ganhamos e havemos, quebramos, desperdiçamos, guardamos, não encontramos, usamos, rompemos o frágil e fazemos limalha dos bens resistentes. Para nós do Recife, não há segurança, por mais que estendamos os braços, tentando proteger a paz de nossa rua. 

(Osman Lins, « Perdidos e achados », Nove, novena [1966], São Paulo, Companhia das Letras, 1994)

Texte en français

Traduction française


Pleurons main dans la main autour du mort – en qui nous nous voyons –, notre pleur salé. Les eaux, toujours à nos côtés, prêtes à revenir et à recouvrir tout ce qui est nôtre, mouillent les noms des quartiers où nous habitons, rares sont les jours où cette présence nous échappe. Ainsi en est-il du quartier des Aflitos, ainsi de Beberibe ou rivière des raies, ainsi de Recife, l’île du Retiro, du Leite, le Jiquiá ou panier de pêche, l’île Boa Vista, Águas Compridas, Ibura ou la source, Iputinga ou lieu de la fontaine claire, pont d’Uchoa, Várzea, Areias, Água Fria, l’île Santo Antônio, petite rivière : Parnamirim, et les Peixinhos, le Poço, les Afogados. Combien de fois avons-nous été envahis, recouverts, dévastés, par des mers dont nous ne connaissons même pas les noms ? Combien de fois avons-nous disparu, et avec quelle obstination nous sommes-nous reformés, redevenant ville, cap, dune, récif, marécage ? Nous perdons tant, nous vivons dans la perte, nous abandonnons ce que nous avons, nous gagnons et possédons, nous brisons, gaspillons, gardons, ne retrouvons pas, utilisons, brisons le fragile et réduisons en éclats les biens résistants. Pour nous, habitants de Recife, il n’y a pas de sécurité, peu importe combien nous tendons les bras pour tenter de protéger la paix de notre rue. 

(Traduction par Luciano Brito pour l’Anthologie écopoétique située en ligne)

Texte en anglais

English translation


Let us weep hand in hand around the dead – in whom we see ourselves – our salty tears. The waters, always by our side, always ready to return and cover everything we own, wet the names of the neighborhoods we live in, with few days escaping this presence. Such is the neighborhood of Aflitos, such is Beberibe or the river of rays, such is Recife, the island of Retiro, of Leite, Jiquiá or fishing basket, Boa Vista island, Águas Compridas, Ibura or the spring, Iputinga or the place of the clear fountain, Uchoa bridge, Várzea, Areias, Água Fria, Santo Antônio island, little river: Parnamirim, and the Peixinhos, the Poço, the Afogados. How many times have we been invaded, submerged, devastated by seas whose names we do not even know? How many times have we disappeared, and with what stubbornness have we remade ourselves into a city, cape, dune, reef, marshland? We lose so much; we live through loss, abandon what we have, gain and possess, break, waste, keep, fail to find, use, break the fragile, and turn the durable into shards. For us, the people of Recife, there is no security, no matter how far we extend our arms to try to protect the peace of our street. 

(Translation by Luciano Brito for Anthologie écopoétique située online)